10.29.2006

Casamento

Casaram-se banhados sob luz vermelha, densa luz que o toque separava. Amavam-se feito uma inseparação, um pedaço iluminado de utopia macabra, que precisa de morte para ter fim, e que, no final das contas, não acaba.
Eram feito unha e carne. Osso.
E então, já que o outro em si se bastava, resolveram afogar-se no Tempo, e houve de novo luz vermelho-sangue, luz musical, cítara, um longo agudo perseguido por um choro cortante, de despedida, mas que a Eternidade acolheu com alegria. Mataram o Tempo.

10.22.2006

Primaveril

Uma cigarra-sinfônica
em floresta esmeralda
abafa-me a lembrança
de teus olhos profundos,
irrita-me a distância torpe,
o desencontro-lábio,
o braço-desabraço,
a voz calada,
o ritual artrópode
cala-me a alma
e o sono do mergulho-íris.

São esses teus olhos que tudo dizem,
que fácil viram poema,
viram orquestra:
serenata pensamento.

10.08.2006

Domínio


Rápido, rápido, rápido!

Taquicardia, um dois, umas duas ou três, e uma batida que estourava os tímpanos. A bebida não deixava mais ver, e a luz-não-luz forte e colorida colaborava com o estrago visual, estomacal... Olhava, mas nada via, e tudo lhe parecia uma ilusão colorida e disforme, feita pra estragar a noite dos que prezam a razão. Ele viu uns olhos verdes que se aproximavam, mas que tão logo eram azuis e amarelos, e vermelhos, e então ele os fechou quando sentiu um beijo, que não sabia de onde vinha. Uma língua apagou o barulho, que voltou bem rápido, ou sabe-se lá quando. Batidas, tum tum tum, Dj e coração juntos fazendo do caos um caos ainda pior. Desmaiou...

Rápido, rápido, rápido, uma batida de carro, uma ambulância...

Disformidades de um neólogo sensorial.

Branco e azul...

Rápido, rápido, rápido... Pi... Pi... Pi...
Uma cama de hospital e uma máquina de monitorar batidas.

Monitorar.
Controlar, jamais.