1.31.2007

Quando me doem os ombros

O negro,
morena-compulsão,
escolheste por querer par,
por querer desfazer-me o espírito indisciplinado.

Hipnose,
morena-provocação,
fizeste em uma noite insuportável
de calor submerso inferno.

Sem nome,
morena-inevitável,
és diferente de todas as outras
bonecas de borracha e loiro artificial.

És um complicado misto de desejo,
de vontade voyer sem discrição;
eis-me bola de fogo ao lado,
uma bomba relógio barbada, sem virgens, sem paraíso,
sem convicção suficiente pra fazer explodir em ti todos os meus músculos contraídos.

Sem voz,
morena-exceção,
vou-me embora envergonhado,
vou à cama sonhar contigo e esquecer-te:
fazer de conta (de novo) que não me apaixono por visões.

1.25.2007

Cardioparasitose, aguda

Não que eu precisasse,
quisesse, menos, menos ainda,
suportar-te as ânsias agudas de princesa ultrapassada,
a desfaçatez de um capricho tão fora de hora,
ultrapassado, esquecido, cisto,
mimo que és, mimos que me fazes querer,
sentir que és criança, insuportável,
odiar-te dia após dia, odiar-te,
fazer de minhas tripas esse ódio tão víscera,
ansiar pelo fim desses teus olhares que do inferno miram o maldito paraíso.

Não que eu procurasse,
escolhesse, nunca, mesmo jamais,
a burrice de mergulhar teus tormentos,
as belezas escondidas nas tuas palavras doces,
picantes, amargadas, amarelas pus, verde catarro,
amarelo manga podre, sanduíche de mostarda,
o gosto da tua boca é um dissabor que nunca senti,
uma vontade sem cor de ir embora pra sempre, pra que me esqueças,
pra que na lembrança ao menos tu existas, quem sabe...

Um desejo de ódio,
amor,
desdém,
comer-te; engolir sem mastigar.